Índices de referência ou Benchmarks são omnipresentes quando se trata do assunto investimentos. A proposta de valor de um índice de referência é clara. É possível comparar com facilidade o desempenho de um determinado investimento ou fundo com o desempenho médio de uma classe de ativos.
Os índices mais populares para fins de comparação no Brasil são o CDI, a inflação brasileira medida pelo IPCA e o índice da bolsa brasileira, o Ibovespa. Em alguns casos, também são feitas comparações com o índice da bolsa americana, o S&P500.
Entre os índices, o destaque é o CDI. É o índice padrão com qual é comparada a rentabilidade de uma carteira de investimentos no Brasil. Inclusive, ao entrar na sua conta da corretora, você provavelmente se depara com a comparação da rentabilidade da sua carteira com o CDI – isso costuma ser pré-definido.
No entanto, a comparação com o CDI pode induzir conclusões equivocadas e gerar desconforto com a rentabilidade da própria carteira. Ouvimos comentários de clientes (também amigos, familiares e pessoas em geral) como “O CDI rendeu X e minha carteira somente rendeu Y, não estou feliz com isso”. Ou também o contrário “Minha carteira ganhou em X% do CDI”.
Os investidores gastam muito tempo se preocupando com o índice e poucos param para considerar se o índice realmente importa para eles. A rentabilidade do CDI não significa muito se a sua carteira não tenta replicar o CDI. É improvável encontrar um índice que reflita adequadamente os seus objetivos financeiros e suas circunstâncias individuais.
A vontade dos investidores de querer comparar é compreensível. Comparar fornece um contexto, algo para determinar se a carteira está indo “bem” ou “mal”. Porém, cada índice de referência usado para fins de comparação pode ou não ser relevante para sua estratégia de investimento específica. Esperar que eles se alinhem pode levar a conclusões erradas. E pior, gerar alocações impróprias na tentativa de superar um índice arbitrário.
Uma carteira bem construída precisa ser feita sob medida para o investidor. As suas necessidades, objetivos, tolerância ao risco (e talvez ainda mais importante, capacidade de risco) e prazos para usufruir o patrimônio construído deveriam nortear a alocação. E esses fatores mudam de pessoa em pessoa. Para criar uma comparação justa entre uma carteira e um índice de referência, seria necessário construir um índice customizado que consiga capturar o peso de alocação para cada classe de ativo e estratégia empregada.
O verdadeiro índice de referência no qual as decisões sobre a alocação deveriam se basear são suas metas, valores e situação financeira. Isso significa conhecer respostas para perguntas como:
- Por que você quer investir?
- Quando você precisa acessar e utilizar seu dinheiro?
- Quais são seus objetivos e quanto dinheiro você precisa para alcançá-los?
- Como você responde emocionalmente ao risco? (A resposta para essa pergunta muitas vezes só é encontrada ao passar por um evento/ queda dramático(a) dentro da própria carteira).
- Quão disciplinado você é? Você consegue focar no longo prazo?
- Você realmente pode se dar ao luxo de arriscar em um investimento?
- O que é suficiente para você? Qual é o valor?
Com base nas repostas para essas e outras perguntas, deve ser determinado quais investimentos são mais apropriados. O objetivo de investir não deve ser apenas ganhar o máximo de dinheiro possível, obter o maior retorno absoluto ou superar um índice. Embora mais dinheiro sempre é bem-vindo.
O sucesso de uma carteira de investimentos deve ser medida contra a capacidade de viabilizar os seus objetivos sem correr riscos desnecessários. Isso não soa interessante e nem é empolgante, mas, muitas vezes, o planejamento financeiro prudente e a gestão de investimentos são, admitidamente, bastante entediantes.
Índices são ferramentas eficazes para comparar o risco e retorno de um investimento com a média do mercado de investimentos similares. Agora, para a carteira de pessoas físicas, o uso de índices de referência é limitado. A final, cada jornada financeira é única e uma carteira de investimentos deve ser moldada de acordo.
Daniel Andreas Frey é graduado em administração e é agente autônomo de investimentos credenciado à XP Investimentos e sócio da Método Investimentos, em São Paulo/SP.